Com os anos a morte vai-se tornando familiar.
Quero dizer… não a ideia da morte, não o medo da
morte,
a realidade dela.
Deve ser tudo natural! Certamente é tudo natural e não entendo.
Ninguém pôde valer-lhe, ninguém pode valer-me…
Os olhos dela estão comigo e não estão comigo!
As mãos são raízes secas. Parece tornar-se terra
antes de voltar à terra
e torna-me também terra com ela.
Algo de inerte coagula-se-lhe nos gestos, as
feições adquirem
a trágica dignidade do silêncio e o silêncio
acusa-me.
De quê?
Despidas de sentido as poucas palavras que me
diz acusam-me!
Ainda que passadas de amor, acusar-me-iam.
Não se queixa, não chora, e no entanto a
almofada em que poisa a cabeça é uma lágrima enorme.
O seu nome repete-se sozinho dentro de mim.
Tento recordar-me: a casa dos meus avós, episódios antigos, as
horas gordas do relógio de parede ecoando na sala. Continuam a vibrar, imensas.
Depois calam-se, e apenas um som distante.
Nunca me tinha acontecido isto. Enquanto lá
estou dentro, nunca consigo ver claro. Tenho uma ideia vaga de para onde vou,
mas não tenho qualquer certeza de como é que lá chego, nem quando.
Autor: 𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð
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